sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Sonho Branco


A persiana dos meus pequenos olhos alucinados abre-se lentamente, e, do módico escuro, surge a repercussão da sineta daquele cenário branco ofuscante. Na praça, deslizavam de patins de lâmina fina tantas figuras encasacadas. Riam-se e caiam, caiam e riam-se. O pai de quispo verde-tropa, agarrava com toda a sua elegante e protectora energia na pequena e rosada mão da miúda de tranças ruivas e gorro de lã colorido. Ela, olhava em frente, confiante, segura, com o tufo felpudo de lã do alto da sua cabeça a insinuar-se ao vento frio. Rodava em pequenos círculos harmoniosos sobre aquele gelado pano de fundo citadino, coberto de luzes pitorescas que piscavam alegremente e sem ritmo preciso.
Como era feliz um metro e vários centímetros a baixo de quem a amava incondicionalmente!
A multidão desenvencilhava-se dos ponteiros gigantes do relógio da torre, velha casa das pombas. Corria, carregando enormes caixas protegidas por brilhantes e ilustrados papeis. Ainda podiam ver-se alguns ramos enfeitados da inscrita árvorezita verde, para lá da janela de parapeito branco, com cortinas de linho, mesmo ao lado da grande loja de brinquedos.
Era Natal.
Lentamente, fechei de novo os olhos, agora maiores;
Acordei sem querer.

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Boa viagem caro companheiro R.
,desculpa se nunca soube dizer adeus.
Aprendi o Até Sempre.

Imagem em Deviantart

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A chegada, é só mais um ponto de partida


A vida aos solavancos. Não levo a sério tal veículo. Vou. Onde fui ter agora?! Não sei, mas sabendo-me encontrada na minha falta de objectivos palpáveis, sei-me útil. Sim, útil, sóbria, em mais uma jornada inconsciente. Uma nova jornada que me olha descontraída do alto da sua poltrona, indiferente ao som dos meus passos atabalhoados nos degraus. Usufruo medrosa e de sorriso meliante nos lábios o seu tom de desafio, os seus alicerces sobre tal chão que questiono sempre. Enfrento-a subtilmente por entre tropeções divertidos. Ela ri-se de mim, ela ri-se comigo. Oh, como me agrada quando te ris de mim, torna-se tudo tão levianamente belo!
Ontem..., não me lembro bem de ontem, de onde estive...Estava tão longe..., estava tão perto! Vi vários rostos todos iguais. Admirei infinitamente pessoas que conheci durante escassos segundos. Ignorei quem espicaçou o acaso da minha presença. Vagueei sem indagar, qualquer enquadramento mundano. E ri-me tanto..., gargalhei quente, segui e fitei aderente, como se da última vez se tratasse, os olhos de vinte estranhos que me ofereciam o que já de pouco lhes valia.
Fomos todos na calçada. Somos todos. E cada um, quando agimos numa qualquer rotina sob a forma de montanha russa.
O meu espaço é meu, não temo perder nem ganhar... Temo não ir, temo não beber...
Para quê valorizar uma só cabeça, quando perder tempo a faze-lo é limitar-mo-nos?
Seja qual for o eixo, o peão roda e roda envolto no remanescente, e um dia não precisará do cordel.

...À saída daquela velha e acolhedora tasca da esquina, disse-me perto do ouvido, a voz fiel do rapaz vindo de um outro qualquer motivo: Mantém-te firme!
Surpreendida, fixei-o com fidelidade semelhante, e sorri.
E assim, levei-me. Deixei o mais simples guiar o que já em mim viciara traiçoeiro. Fui, apenas sendo.

Cá estou..., na calçada..., a tentar o começo de um aleatório e irresponsável final. Por demais saboroso quando a pulsar!

Imagem em Deviantart

terça-feira, 8 de setembro de 2009

"Não morras agora que estão a olhar para nós!"

Por entre um ou outro palpite, uma ou outra aposta, um ou outro olhar de sobrolho franzido..., duas, três e meia partilhas, dois crepes de legumes e demasiado pimento. Sol... muito sol..., ruas paralelas todas iguais, manchadas pelo Q de ser-se artista...; Um cocktail de posse de sentido esteta, espírito e atitude criativas e um outro Q pouco nada aprimorado de jondríce! Sim, da boa! Do cheiro, meio de gente, meio de lã perfumada, meio de divagação semi filósofa, meio de semi poser. É isso! Isso mesmo é ruela corrida...!
Um novo chá... japonês?! - Li-lhe uma pequena e engraçada estória, introdução, apresentação, ou o que mais ou menos seja. Li! - E ouvi..., sentada mais uma vez naquele meu conceito de espaço, a descobrir novo puzzle ao som das espirituosas crónicas de A. Lobo Antunes através da tua voz colocada e expressiva.
O gato preto miava no telhado do vizinho...,e eu estava num dos scones quentes e fofos com doce e manteiga da minha casa!

Entre outras, faço questão de partilhar esta crónica: Não morras agora que estão a olhar para nós

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E, mais uma vez, porque sim... ;)

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Anúncio Censurado

Ora aqui compartilho um anúncio forte, realizado recentemente, o qual a televisão portuguesa proibiu...

A hipocrisia é a harmonia social.

domingo, 6 de setembro de 2009

And so it is...

"Te olho nos olhos e você reclama
Que te olho muito profundamente.

Desculpa,
Tudo que vivi foi profundamente...
Eu te ensinei quem sou...
E você foi-me tirando...
Os espaços entre os abraços,
Guarda-me apenas uma fresta.

Eu que sempre fui livre,
Não importava o que os outros dissessem.

Até onde posso ir para te resgatar?

Reclama de mim, como se houvesse a possibilidade...
De me inventar de novo.

Desculpa...se te olho profundamente,
Rente à pele...
A ponto de ver seus ancestrais...
Nos seus traços.

A ponto de ver a estrada...
Muito antes dos seus passos.

Eu não vou separar as minhas vitórias
Dos meus fracassos!

Eu não vou renunciar a mim;

Nenhuma parte, nenhum pedaço do meu ser
Vibrante, errante, sujo, livre, quente.

Eu quero estar viva e permanecer
Te olhando profundamente."

Ana Carolina

Foto em Deviantart

sábado, 5 de setembro de 2009

A share...

A ideia, e a junção da técnica com o talento de se saber transformar o instrumento básico rotineiro, é Arte!

Espreitem aqui qualquer coisa: O que antes eram garfos...

"(...)Juntaremos os garfos? Diminuiremos o espaço entre as fortalezas de metal? Ou faremos as construções parnasianas? Se colocarmos os garfos à prova do fogo, quem sabe não faremos deles um só garfo ou, ao final do processo de moldar o ferro ou o ouro não tenhamos construído um interessante poema parnasiano?"


Em, Espartilho de Eme

Ante Cordão Umbilical


Assim, inculta. Assim, em estado puro. Assim, surpreendida com aquilo que já toda a gente sabe, que já toda a gente leu. Assim, a dissertar sobre o que tu já dissertaste anos antes. Assim, em estado híbrido numa qualquer ilusão sem cheiro preciso. Assim, deitada na relva de olhos abertos lacrimosos por não pestanejarem. Busco cada movimento, cada brisa, cada insecto, cada lua nova, cada som em movimento, a total harmonia entre mim e o intacto do que se criou lentamente dentro da barriga da minha mãe. Espero num êxtase mudo, de quem está à espreita...
Assim, como a eterna criança que ainda não aprendeu a andar e vê com olhos de estrela tudo o que existe ao seu redor. Tudo é limpo. Assim. Com as mãos e os pés tão pequenos quanto a minha obrigação. Foco tudo com o genuíno do meu estado perfeito. Ficar assim. Esperneio com a liberdade mais cheia, aquela que não precisa de saber o valor e o significado de ser-se livre, inteiro. Assim, saltitando em contra-tempo com a bola colorida.
Quem é meu pai? Quem é minha mãe? Onde esta a minha casa? Porque te pintas? Porque há duas ruas se posso brincar aqui? Porque é que os dedos murcham quando estou no banho? Porque é que as pessoas fogem quando esta a chover?
Assim.

Não existo para saber. Não escrevo para dizer.

Foto em Deviantart

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Something light, em embalagem Tetra pak!

Busted!
Ora portanto, no outro dia estava eu no AKI em Lisboa, bastante alegre e contente, e não sei quê, (o AKI é o paraíso do fast-food & self service dos "bricolage, decoração e jardim", como eles dizem! E se dizem, dizem!), observando de forma muito crítica prateleiras de parede: Ah esta não... demasiado pesada, e tendo em conta que é vermelho vivo, torna-se saloio e vulgar em junção com o preto... e blá blá blá".
Sentindo-me leve naquele vestido simples e simétrico, distraidamente levo a mão à parte traseira e, vá, central da minha pessoa, levantando o vestido... e, toda senhora de mim, desato a coçar indiferente a nádega direita na maioooor descontracção.
Ora vai dai, que só quando tinha cerca de seis pessoas, que se encontravam atrás de mim, a olhar fixamente, um qualquer ponto um tanto mais a baixo que a minha cabeça..., cada qual com sua expressão reticente, é que se me dá o click da pequena figura que fazia.
Estava de biquini, mas lá esta... é a velha estória dos contextos!

E basicamente era isto, o resto, fica ao critério de cada um!

PS: Neste momento, através das fantásticas televendas, acabei de ter conhecimento de que existe um qualquer aparelhinho, qualquer coisa como uma escova de cabelo electrónica, que mais parece um comando de televisão com luzinhas de Natal incorporadas, que basicamente tem como objectivo a bio-estimulação da zona capilar, através de raios lazer, combatendo assim a calvice.
Dizem eles que a tecnologia base que possui foi desenvolvida pela NASA!!

Sinto-me bastante mais descansada.

Resta-me desejar uma qualquer boa continuação e um especial cuidado com quem ouçam, por alguma eventualidade, cantarolar Telmo Miranda "Ela é made in Portugal".

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Ah! (Vendo-se apenas parte da minha cabeça por detrás da porta aberta) Já agora, e dando continuidade à multiplicidade humanamente mundana sugerida já pela anterior imagem escolhida, dos nossos caros americanos Lodger, aqui fica mais uma controversa partilha:
I love death

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Amália, O filme



"...Eu não sou mórbida, sou lúcida..."
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Escolher não é capricho.
Desfruto-te com impaciência e olho-te de soslaio demarcado.
Desfrutas de mim o que consomes, chão ou areia, mediocridade ou estalo firme.
Só quem não sabe da extensão da sua solidão, a infinitamente real de coroa, poderá tornar vaga e imprevisível a sua capacidade social e, inesperada e vazia a sua: capacidade solidão, distinta. Frente e verso da mesma folha de papel.
Só quem nunca redemoinhou sozinho no ciclone do mais puro da alma humana lavada, poderá prescindir de se sentar aqui contigo.
Amanhã com o bêbado do balcão, obstáculo para quem passa...

Escolho, descubro a pérola da concha maior que a minha mão.
Por isso, jogo ao jogo do galo contigo.
Não me interessa a derrota. Não me interessa a vitória.
Interessa-me o entretanto do que descubro, mesmo que me provoque náusea.
Sinto.
Amanhã acordo e estico-me mais livre.
Amanhã não estarei aqui.
Hoje revejo o outro quarto do círculo.

Por vezes até me podes provocar dó.
Usar-te, usares-me,
Usufruir-mo-nos.
Ser ou não ser sem se procurar algo estúpido.
Apenas não procurar. Apenas ver.
Sentir.

Por isso sim, mais vale mal acompanhado do que só.


O velho amigo do medo, não teme seu próprio desconhecido.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Eternidade do Eco...

Alterar o ritmo?! Não quero! Alterar o mode?! Não quero! Alterar o timing da minha gargalhada?! Não quero! E quero subscrever por favor!! Quero! Quero para não mentir outra vez!
Esta agradabilidade piedosa para comigo própria, a minha embriaguez azeda!
Sentada ao teu lado jurei poupar-me poupando-te. Porém, não é conforto. Odeio tal cadeira! Sabe a nada, é derrota com bandeira pirata esfarrapada, não se lhe sente já o enfadonho assento. Quero sentir! Quero ver-vos a vocês sentados nessa plateia sem linha da vida. Sim, a vocês! Eu não estou. Fui ali... Fui ali ver-vos.
Sorrio e aceno, olho-te doce, sorrio para dentro, exteriorizo-me de tudo! E consigo. Consigo até olhar-me ao espelho. Já nem eu me vejo porque me vejo bem demais. Queria harmonia nesta perda sem sentido, esta perda sem ganha.
Foi nada, foi pouco, bem sei. Mas deixa-me anuir gentilmente, em invés deste NÃO! aparatoso, outra vez, deixa-me...
Tu deixas, tu não sabes. E quem não o permite, não sente o meu olhar doce quando me poupo poupando o mundo de mim. Anuíram-me a mim antes de ontem.
Atropelei palavras banais para não me lembrar de que não conheço o silêncio que desejo, sem desejo.
Vultos..., tu, eles e os outros.
O relógio segreda agora a madrugada, e lembrei-me de que logo sairei à rua e que atrás de mim estará a minha sombra, também ela disforme. Também ela maior e esguia.
Logo..., logo voltarei a esquece-la. E voltarei a olhar-te a ti e aos outros, com olhos doces. Ali.
Sou demasiado fraca dentro da minha armadura, para pontapear o que sabe a pouco, aqui sentada. Pouco..., pouco é tanto para mim, aqui , hoje. Quero. De momento quero mentir-me. Por favor, deixa-me...
Deixas sim. Eles deixam-me... Sempre.

Foi agradável esvaziar a jarra das flores esta noite..., estavam secas muito antes de as colher. - ...E a água? - Não a cheirei.
(...)

Imagem em Deviantart