segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Roda da Orquídea

Perdido como que com uma orquídea na mão que nunca será de ninguém. Mas ao invés disso, uma roda velha de bicicleta. Que em tempos que já lá vão rodou tanto quanto a vida de seus avós.
Não se lembra de dormir entre quatro paredes. Não se lembra do Natal, de uma lareira, nem tão pouco de jantar em família. Era sozinho tanto por convicção como que por condição. Temia partir a sua velha e empenada roda de bicicleta. Já enferrujada e sem pneu. Já desprovida de função e mecanismo. Já nem se lembrava a que bicicleta pertencera. Por de certo alguma.
Estava agora ali sentado na sombra de um dos pilares da ponte sobre a via rápida que rasgava o trajecto de ligação entre duas grandes vilas, por terras sem nome e gente. Sentado na metade de um tapete de arraiolos coçado, despeitava a morte em virtude da sobrevivência. Ele estava vivo, em nome do desconhecimento de todos. Em nome do anti-prazer que apenas imaginava das coisas sem pena. Em nome dos sem-nome. Dilacerado por uma série de propósitos assombrosos que não foram dele, e dos quais até já se esquecera.
Se era feliz não sabia, mas como de saber a ser-se triste vai um fácil passo, era integramente um ribeirinho de curtos mas vincados sorrisos.

Orquídeas, a sua roda velha... Orquídeas porque são a elegância com a maior família. Roda, porque uma vez entortado o ciclo, jamais se endireita, sendo tal e qual, exclusivo no universo.