quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Papel de Parede

Criei, com tudo o que me esvaziou recantos e encheu os cabelos oriundos das ilhas além mar, um enorme e interminável papel de parede. Consoante a luz, misturam-se as suas cores na minha íris exausta.
Hoje é rosa velho. Velho o tom, velho o papel, infinito, queimado, nauseante, gasto.
Forrei o labirinto de Fauno desta minha guerra. Muralhas ergueram-se, cheias de fissuras sedentas do meu oxigénio sufocado. Os tambores da minha mente rufavam baixinho e implacavelmente. Ponderei o meu grito mudo.
Levei as mãos à boca.
A saída seria mais à frente. Um à frente indefinido e sem data prevista, relativizada pela escassez da hipótese.
Ouvi os meus passos ressoarem num chão feito de pó.
Já não sentia mais nada. O som abafou. O sofrimento sofria por não se sentir no meu peito.
Com as mãos frias senti o papel feito de tesouros e ferrugem.
O seu desnecessário, criou a minha angústia.
Fizeram-se um. E eu forrei-os, agora um só, de coisas. Coisas minhas...Coisas de toda a gente. Coisas de lá de fora..., e de algumas, apenas algumas de tantas coisas, que entraram aqui... Aqui mesmo. Em mim.

domingo, 25 de outubro de 2009

Piquenique - Pinipique


Quem ficou com quem?!

Desculpa-me se prefiro ficar aqui a troçar de ti, desculpa-me, vá lá! Afinal, tu sabes que o faço. Tu sabes que centro este jardinzinho tão e tão pouco meu. Anda, vem lanchar comigo! Trouxe compotas de mil sabores silvestres, leite da casa dela, e aquela toalha que fazemos o favor de aconchegar. Ah, e também trouxe as duas colheres de prata já a contar contigo secretamente.
Shiu! Não reclames! Encosta-te a esta árvore aqui comigo. Faz com que ela goste de nós enquanto comemos este pão feito pela madrugada.

Vá lá, troça agora tu de mim!! Relembra-me de que te afasto e que agora, mesmo agora antes de sair de casa, esqueci-me propositadamente de trazer duas chávenas, uma para mim e outra para ti! Oh vá lá, faz da falta de motivo uma festa! Faz deste olhar, e bocas de sorrisos tímidos, sujos de migalhas, o nosso pequeno presente de laço de veludo! Faz sentido não faz?
Pára! Sabes que tenho cócegas nos pés, no pescoço, e em todo o lado! Tu sabes! Na simplicidade deste gesto percebeste que troquei outra vez a cor das meias, que trouxe o lenço de renda para tapar do mundo, a nossa cesta de sabores e temperaturas...
Desculpa, peço por hábito, não sei o que fizemos, se fazemos, o que fazemos. E por não me interessar sequer, peço desculpa.
Vais embora... Vou troçar da maneira como me beijaste desajeitadamente a bochecha acalorada! Vou troçar do teu andar...! Sim, o teu!!
Se estou contigo, é porque não sei falar de amor. É alto demais para nós. E ambos sabemo-lo.
Bebemos do mesmo termo.
Quem ficou com quem?!
Não quero que jantes logo comigo. Fiquemos apenas e infinitamente aqui, encostados a esta árvore que nos ouviu, a olhar para cima.

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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Entroncamento bifurcado


Passei hoje de novo pelo corredor. Continuava escuro... Olhei rapidamente os primeiros candelabros daquele túnel negro sem fim, que nada mais iluminam que a si próprios. E, voltei a virar a cara no espaço de um micro-segundo. Apressei o passo. Voltei a olhar o chão. Sei-o de cor. Cada fissura, canto, nódoa antiga, pintura, desgaste...
Toda a gente ao longo dos anos percorreu o menor caminho. Vou pisar o menos pisado, sentir-lhe a cor..., sentir a maior curva..., perder mais três, quatro passos de tempo.

Dei por mim de novo cabisbaixa, a ver o mais alto de mim. O escuro iluminado do novo lugar de sempre.
Eu não queria. Não queria mesmo.
Não sei bem se alguma vez lhe cheguei perto do fundo, rente às teias dos candelabros, sentindo-lhe os limites das paredes..., mas sei-lhe o final.
Com verdade, minto; Não queria.

E avancei por aquela longa e larga estrada que todos olhavam.
______


A mais, ou a menos...

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terça-feira, 13 de outubro de 2009

Fogo de fósforo

Prometi-me a mim mesma firmeza..., cumpro!
Tudo é tão diferente quanto igual, eu prometi-me que desta vez iria. Fosse eu de que avesso fosse. Fosse a menor parte de mim. A paralela ao grande espelho do mundo. Uma das todas.
Efémera entertainer. Curta distância. Frente, agreste. Até pareço lançada, institucionalizada com o passa-port pendurado, seguro entre o dedo indicador e o polegar da mão direita em jeito de 'tou-me nas tintas!.
Mas quando me olhas, mesmo que por detrás do plástico da restante gente..., tiras-me o tapete de debaixo dos pés. E volto ridiculamente a ser a menina contida e idiota de treze anos que, não segura, sonha, foge, e não te olha nos olhos. Não sei..., mas sei que hoje a noite voltou a ser longa demais. Demais para os demais.


Ao estilo de Hank Moody (Californication) :


Fuck

sábado, 10 de outubro de 2009

Origami

Dobrando e desdobrando. Criando formas. Livres de mim. Seguras nas minhas mãos.

Paradoxal do meu berlinde


Se eu disse que quero gostar, parem de bater!!
Tirem-me os cacos e o montão de coisas agora improfícuas do meu alcance!!
Tirem!!
Elas sempre foram feitas de coisa nenhuma, quando lhes pegava absorta nesta sala.
Tirem-me as coisas da frente e vão-se embora.
Quero escorregar pelo chão como um demente tresloucado!
E arranhar o fundo da minha garganta!!
Engolir a língua!!
Rir-me alto e a plenos pulmões das portas que vocês trancaram com receio de mim, pensando que eu não daria por isso. Ahah...!
Vá! Saiam da frente!
Porque têm de passar agora por aqui, se nem precisavam de vir à sala?!
Vai para o teu quarto!! Sai com eles! Passa pela cozinha!!
Deixa-me.
Se aqui vieres lanço-te um sorriso franco, sim, pouco convicto, mas impenetrável, sim!
Irias preferir um rosnar.
Vai.
Vão.
E tirem-me tudo da frente.
Sejam felizes de hoje para amanhã, venham com o cheiro que vierem.
Sim, porque vocês voltam não voltam?!
Eu quero estar sozinha, que adoráveis quatro paredes!!
Não vou ter de me calar quando chegarem de madrugada pois não?!
Nem arrumar pois não?!
Nem de me vestir, nem de me lavar, pois não?!
Não quero!!
...Vocês voltam não voltam?!
É que, esqueci-me de me arrastar.
Para que é que afastaram tudo de mim, se eu cortei as minhas próprias pernas?!
Maldita vida que me mato se mas tiras, se me impedes...!!
Ah, tudo bem, ainda as tenho, estão comigo! Ahah...!
E a casa esta deserta, as coisas longe de mim, os gritos por debaixo dos móveis, e o lixo espalhado pelos compartimentos para lá de mim...!
Estou eu, e inteira.
Esta tudo!
E agora mais, os passos, e os fantasmas, e as pirâmides translúcidas em cada canto escuro...
E agora..., e agora já posso ter-me.
Já posso redigir-me.
Já posso que ninguém vê!!!
E agora..., já agora..., quando chegam de novo a casa...?
____

...E irei beber, irei beber o que não bebi, o que bebi e o que quero provar outra vez, pela primeira vez!

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Deviantart

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Home...

Podia, do verbo "Dever", estar a escrever uma qualquer dissertação, reflexão, ou o que seja, sobre o aquecimento global, e o poderio das financeiras e mercado consumista, e as pessoas, e as massas, e as energias alternativas, e a destruição da placa terrestre, e...e... , mas não! Assunto mastigado, nunca seria minimamente original, aliás nem faço questão. A nossa Casa Azul esta mais ou menos por nossa conta, e eu vou-me lembrando disso com carinho e alguma responsabilidade. Mas não me peçam para escrever sobre o que toda a gente já escreveu, porque não vou dizer nada de novo. Não que partilhe para inovar ou surpreender, mas ao fazê-lo, que o faça sem o "peso" da polémica e do grande.
Verdade que o que nos envolve, dá chão, e é milhões de vezes maior do que nós, abrange o suficiente para que o julguemos em silêncio. É demasiado grande, grande em número, em multiplicidade. E isso faz com que a consciência emocional seja três, quatro vezes maior que as quantidades numéricas. Ter-se "tamanho" para abarcar justamente, presente, este monstro cheio de ramificações, é uma causa, não um estado de espírito.
E não me apetece apostar num bonito texto sobre isso. Não tenho nada para dizer. Nem muito bonito seria. Apetece-me enroscar-me em assuntos medíocres, egoístas e pequenos, que encandeiam o meu percurso diário. Desde o que percorro apressada todos os dias, passando por imensos turistas discretos e interessados nas pequenas lojinhas de artesanato, que emolduram a longa e estreita rua que liga a praça central à Sé da amistosa cidade, ao que corro todos os dias quase de olhos fechados de sono, entre o meu quarto e a casa-de-banho.
Faço-os a correr, tenho pressa, não lhes agradeço passagem. É garantida. Não vou questiona-lo.
Na minha cabeça vagueiam procuras. Procuro contar as vezes de total presença física e disposta, em que simplesmente o meu cérebro estava sentado, possuindo uma senha, esperando a sua vez ,que se prometia breve. As vezes em que estava limpo e não pensava em absolutamente nada para além da mensagem visual concreta do momento.
Não me lembro de nenhuma vez em que tal tivesse ameaçado acontecer. Nada de novo. Pensava, portanto, mais uma vez em coisas banais e inúteis. Eu era banal e inútil, e corria para não chegar atrasada, para fazer o que tinha de fazer. Pois tinha..., tinha, pois!
Tudo e todos procuravam mostrar a sua importância, e o mundo continuava em silêncio. Ele nunca me bateu à porta choroso, lamentando suas crises existências. Dou-lhe 0.0000001% de poupança por cada mês, ele da-me chão, ar, o sol e a lua (...). É justo. A sério que é. Ele da-me, eu poupo-o. Ando à chuva, sento-me na relva, bebo água, sorrio por cada coisa que gosto, ouço trovejar, abro a janela, choro só porque sim se esta cinzento, como limões à dentada. Amar pode ser isto. E o equilíbrio esta na forma natural com que tudo acontece.
A minha cama de madeira, permite-me pensar desta vez deitada, sempre sem descansar... Lembro-me do teu nariz perfeito de quem se insinua sem se impor. Lembro-me da tua testa alta de quem redige o que planeou em cada manhã. Lembro-me dos teus olhos brilhantes e negros, de quem perfura ao de leve cada quadro. Lembro-me da tua elegância e segurança nos gestos, de quem seduz e é capaz. Lembro-me da tua voz grave e grossa de quem sublinha sua presença e palavras ocasionais.
A Natureza é perfeita. É perfeita porque não foi ela que teve a ousadia de sugerir a palavra "perfeito". É perfeita, porque ontem olhei para ti e tu és tão perfeito quanto os demais que se mantiveram por mera eventualidade em silêncio. É perfeita por ontem, e por hoje, e por amanhã. É perfeita, porque não tem a quantidade catastrófica de defeitos que tu e eu que subsistimos nela, temos. É perfeita porque me fez capaz de olhar e, por vezes, ver. Fez-me capaz de gostar. Fez-me capaz de não saber, de sofrer por ter, e incapaz de não ter. É perfeita.
Não me dá fórmulas certas porque sabe que não quero acertar sempre. Não me dá gráficos para que eu tenha consciência de quem passa fome do outro lado. Não me dá dinheiro em sacos, porque sabe que preciso de me levantar.
E assim escolho o meu caminho. O de percorrer de cara suja o corredor entre o meu quarto e a casa-de-banho todas as manhãs. O de subir a rua das lojas de artesanato e observar por instantes os turistas que as enchem. O de te observar por uma noite e avaliar os teus traços. O de poder tornar real cada imbecilidade do meu ser, inútil, comum. O de poder olhar para a Lua sentada na janela aberta. O de gostar. O de poder ter uma pequena história, ilusoriamente ou não, só minha.
Amar pode ser isto.

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Em jeito de bons vivants desparasitais, vejam um bom exemplo aqui!
Não sei o que foi feito do lixo não orgânico e/ou inutilizável, mas sei que esta marcada já a data portuguesa para o efeito: 20 de Março de 2010.
As inscrições fazem-se aqui!

Imagem em Deviantart

sábado, 3 de outubro de 2009

Grrrrr!

É, como milhentos, nasci no país errado...

É isso aí
Afonço Salcedo!

Aliado a uma grande dose de talento e mérito, há quem nasça com o rabiosque virado para a Lua!

Imagem retirada da net