domingo, 29 de maio de 2011

Algures.

E outrora a fiel senhora colhia alecrim dos campos selvagens vizinhos.
Não o fazia numa bela tarde de sol, de cabelo solto ao vento, nem de saia rodada, como podereis imaginar... Não usava tranças, nem fita de cetim, nem tão pouco sapatos de fivela.
A sua nudez era de ganga suja e gasta. O seu cabelo emaranhado e mal preso num gancho ferrugento, apenas ousava adquirir vida própria nas pontas ao estímulo da brisa.
Não era branca nem morena. Não era fina nem rosada. Não tinha mãos delicadas e compridas. E a sua sentença preferida era a da negação. Apesar de repelir vertiginosamente a palavra
não.
Era uma contagem devastadora como um desastre natural, a sua história.
Nem tão pouco gostava de poesia. Poesia era uma tentativa esteticamente mal vingada da prosa fácil, pensava.
Gostava de palavras e cartas comuns. As que se mandam a toda a gente porque são claras. E o alecrim que colhia não enfeitava a janela do seu quarto, servia sim para perfumar a retrete.
Sempre senhora, mulher, menina de cidade velha, presa num casebre de madeira pousado numa realidade pastoril.
Não lhe interessava a vida das abelhas como propósito de divagação. Não trazia na boca o travo a laranja, ou nos lábios a cor do morango.
Sofria de uma coragem amorfa por coisa nenhuma. E era assim. Era e seria assim amada por tudo o que de nada de si trouxesse.
Era virgem, e tinha tido mil e um homens.

Era perversa e gostava de lençóis lavados e cama vazia.

Era puta, e rezava todos os dias pelo paraíso ao invés do inferno que toda a alma rebelde pensa desejar.

Vendida por um só beijo, doce por uma noite de suor, impenetrável por um dia de compromisso.
Inimputável frigidez. Fogosa flexibilidade.
Dos sonhos fez anéis. Anéis de corda que jamais tira para lavar roupa ou tocar piano.

Pois que são só isso, argolas imperfeitas que abraçam incestuosamente os seus dedos curtos e mal cuidados.
Como ela é só outra coisa, quando em incerta noite que por aí professaram, se deixar ir nos braços de um homem rude, pedindo-lhe que por favor a ame, sabendo que o amor nessa condição, ser-lhe-à muito inferior e pequeno. Bem do tamanho da pupila dos seus olhos mal pintados, e brilhantemente derrotados.
A fiel senhora era, afinal, o casebre onde dormia.

sábado, 28 de maio de 2011

Narcótico, entorpecente ou estupefaciente...

...Disneylandiano.



Droga da boa, vá!
And what else?!

quarta-feira, 25 de maio de 2011

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I am the cynic of our golden age. (...)
Life has no purpose. It is everywhere undone by arbitrariness. I do this and it matters not a jot if I do the opposite. But in the playhouse every action, good or bad, has it's consequences. Drop a handkerchief and it will return to smother you. The theatre is my drug. And my illness is so far advanced that my physic must be of the highest quality.


by Rochester
in The Libertine