sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O limiar...



...torna-se perfeito.

( Inserido numa curta metragem de 18 minutos..., que, ainda a ver como, quero encontrar. )

domingo, 24 de outubro de 2010

Sempre tive tendência para as coisas tristes.

Sempre tive tendência para as coisas tristes.

Aquelas que alegremente me espremem o sobressaltado coração em mácula.

Desde o primeiro medo da soleira da porta da cozinha dos meus pais, ao medo maior do passado sem futuro. E do presente sem passado. E do futuro esse, sem qualquer futuro. Desde as pequenas rezas por pequenas ambições no meu quintal, pelo Jesus dos outros, até à ideia quase ateísta de idealismo sem ambição.

Sempre conheci do complexo dos passos de quem anda na estrada em bandos. Mais até do que de quem anda sozinho. Tenho os sozinhos por excelência, como meus irmãos da culpa. E sobrava-nos tanto e tanta gente só por acharmos ser assim. Quase juntos. A mais não será, mas recusamo-nos a guarda-los cá dentro.

A beleza abençoada por ninguém da sujidade da calçada. O drama da chuva sobre zinco quebrado. Os olhares negros tapados por pele enrugada.

Uma imagem no vidro, em reflexo de imensas vontades mal vingadas..., era sem dúvida a imagem mais bela. Ver quem a olhasse com a subtileza da procura. O vazio da insensatez achada e guardada para sempre no cofre do peito. A inconsciência do consciente precipitado sobre o mundo desconhecido. Esse mesmo vazio do vidro. Esse mesmo confronto com a delicada frieza da aproximação.

As cores do peixe do aquário do bar da esquina. O leque mexicano a enfeitar a velha televisão na casa alugada de alguém que diz vir do sul. O disparo da máquina fotográfica analógica que perpetua, e o arranhar da agulha no disco que gira sobre o armário da sala. Os círculos disciplinados da água do ribeiro esquecido. O silêncio do que existe.

O vermelho..., também ele é triste. Também ele chora sangue com a tenacidade suficiente para se fazer sentir quente. As linhas de comboio à espera da passagem do tempo. Um alfinete. Um pequeno alfinete, que aperta uma ponta de tecido a outra para salvar, aperfeiçoar, ou simplesmente abrilhantar o que já está composto. O verniz transparente nas unhas curtas. A insuficiência que provoca a maldade.

Porque quando passo por entre as sombras que se colam ao chão, sinto-lhes o ego erguido em mim.

A panela que ferve. O chocolate que borbulha. A sopa que escorre. O azulejo que se desgasta a ver tudo do mesmo lugar, quedo. A madeira que range e estala por capricho de charme.

O nenúfar sem chão e a túlipa fechada.

E ainda que o vidro se parta, (que assim seja!) que o vento que venha de lá esfrie o contorno que desenhou, e do que esteve. E nunca traga o engano de um conjunto de dogmas sob capas de artifícios para me cobrir do frio.

Esta é a melancolia atroz. A mais sentida pelo engano da alma. A maior de todas.

A tendência delicada para as coisas tristes.

A perfeição inconstante do que não interessa à razão aprendida.

Ao compasso da maior festa dos sorrisos.

A felicidade plena ao Sol poente.



Imagem em Deviantart

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

sábado, 16 de outubro de 2010

(11:26h em Évora, 2:28h no Dubai...)

Enfrentar-te através do perfume de outra pessoa que por mero acaso se sentou ao meu lado, faz-me lembrar que desafiante teria sido ter-me ganho, quando estava contigo.
Não foi assim.
Lembras-me algo a que nunca recorro e que é valiosíssimo.
Lembra-me do conforto que um dia foste, no tempo que foi. Do banco grande do teu carro. Do calor do teu aquecedor. Da distância tão curta entre a tua mesa e a tua cama.
Do teu peito tão disponível e reservado.
Da tua pele transparente, que fingias em vão ser resistente e densa.
Da maneira como desafinavas sempre tão presente.
Estabilidade quieta e injusta.
Da tua vergonha de rir, impaciente.
Lembra-me de como eramos novos demais. Lembra-me de como ainda não sabia como e o que jogar em mim.
Faz-me querer esquecer que uma vez já tive padrões maiores, e que afinal, hoje, não me dizem nem me são nada.
Faz-me querer ter-te pedido desculpa na altura certa.
Mas isso, teria sido antes de mais..., pedir-te desculpa por ter tentado ser-te sincera com tanta ignorância.
Eras demasiado saudável e feliz para mim.
E disso retirei hoje o total valor..., no perfume da camisa de alguém que por acaso se sentou no café ao meu lado.
O perfume que tu usavas.
Comum, bom, quente, mundano. Lareira no Inverno.
O conforto, que não era inútil.
E que, então, não o foi.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Q

Em todos os poemas há lobos, excepto num. O mais lindo de todos: "...Ela dança num anel de fogo e rejeita o desafio com um encolher de ombros."


Jim Morrison

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Vidro

Por entre aquilo que ela evita; O mecanismo que dita as horas, digno de qualquer pulso percursor de vida..., é onde reside o maior desencontro com o que mais queria. Na força de um segundo, a viragem do sentido.
Todos são felizes e detentores de tudo aos olhos de alguém... O que escolher então, para lhes provar tal gosto com verdade?
As horas..., a ilusão de que tudo ainda é; Tudo aquilo que já partiu. Tudo aquilo que tem de partir. Mas sobretudo, tudo aquilo que devia ter antes partido.

domingo, 3 de outubro de 2010

caixa-segredo

Se finjo mais do que posso... a melodia que vos canto em segredo, só será perfeita se vos confundir no ouvido antes de vos chegar ao raciocínio. Se assim for, será perfeita.
Poderia acompanhar-vos com um tango, no qual o meu corpo coberto de escarlate aveludado, ondularia centrado num qualquer ego, vaidade por entre sombras. Requebrando sensual. Mordaz na tensão dos membros. Quente... A escaldar. Quase, quase perto de vocês...
Seria então uma mentira activamente inacessível. Interventiva de presença.
Mas parei.
Tendo a talhar a minha própria placa de metal de alguns milímetros, com pequenos e finos sulcos que vou estudando ao acaso da falta de emoção da verdade.
Construí um modesto mecanismo de manivela, colei-o cuidadosamente numa outra placa de madeira leve.
O meu último silêncio...advém da paz inteira que me tenho oferecido, quando pinto agora a caixa de cartão que envolverá o meu segredo.
A música será assim. Sem mais nada.
E se finjo mais do que posso, saberão apenas quando girarem a manivela prateada.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Isto, porque...

Eu redijo um manifesto e não quero nada, eu digo portanto certas coisas e sou por princípios contra manifestos (...). Eu redijo este manifesto para mostrar que é possível fazer as acções opostas simultaneamente, numa única fresca respiração; sou contra a acção pela contínua contradição, pela afirmação também, eu não sou nem para nem contra e não explico porque odeio o bom-senso.
Tristan Tzara