quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Andrógeno

No alto da nuca detinha uma aclarada película de pele rugosa e cinzenta. Todo o seu rosto era afocinhado para a fronte, como um animal de espécie intermédia e mal amanhada, de instinto selvático. O nariz era o único e determinado propósito daquela disformidade craniana; Lembrava uma pirâmide e era rechonchudo, sempre húmido, apuradíssimo de faro, capaz de discriminar qualquer minúsculo ser insolente da sua própria existência a desertos de distância. As orelhas de ouvidos afilados, perdiam-se sem registo de presença por entre o pêlo grosso como palha, imundo de restos de negro trôpego.
Era quase por ser assim, que tudo lhe era devolvido pelo invariável respeito ao medo. E ele içava o seu longo pescoço, composto por vários anéis cor de cobre, e erguia-se sobre as pernas tortas e finas como ramos rijos de castanheiro, espetados nuns gigantescos pés, que ainda que desconformes e peludos, eram o único sinal  no seu corpo que o coligava aos humanos.
Na esfera infinita da sua barriga, ele guardava a fome. Fome essa afamada pela fartura.
Para ele, fartura era um pecado. E a sua véstia de predador facilmente o delatava no mundo. A sua fúria por tal injúria era celeste pela falta em negação, de carborante.
Não se lhe fala do peito.
Era o bruto e jamais o cyborg que os putos nas ruas lhe chamavam, pelos seus imensos braços em geringonças metálicas. As extremidade destes, eram afiadas, e cortavam maçãs aos círculos. Não eram mãos. Não tinha dedos.
Desaparecia para não se sabe onde, a fim de dormir. E fugia indefinidamente quando ao fundo, por de trás da igreja, tocava a sirene estridente e gélida da máquina dos sonhos.
Era cego.