sábado, 20 de setembro de 2014

- Estás a ver aquilo ali ao fundo?
- É verde.
- Sim... E estás a ver o que é?
- Hum... Um sapo?
- Não...
- Uma rã?
- Também não. Olha lá melhor.
- Um tufo de musgo. Sei lá Sérgio. A forma não ultrapassa a cor.
- Se vires um vulto na parede, não sabes qual a sua cor.
- Sei. Sei a cor da sombra. Do vulto em si na parede.
- Ok, mas não percepcionas a cor real do corpo...
- A forma será, então, menos falaciosa para a nossa percepção...?
- Se em perspectivas distorcidas, pode muito bem ser mais falaciosa do que a cor.
- Bem... então a cor será facilmente alterada, para os nossos olhos, sob infinitos condicionantes, como a luz...
- Certo, mas o que tu vês primeiro de ambas?
- Vejo o engano.
- O engano?
- Sim. E a futilidade de não se acreditar no que os nossos olhos vêem à partida.
- Não te questionares é acéfalo, e isso sim enganoso.
- E a nossa ambição fútil.
- É fútil querer saber?
- É fútil querer o que quer que seja para além do facto de termos a capacidade de podermos querer.
- Mas se a capacidade nos foi concedida, porque não usá-la?
- Quem a deu?
- Sei lá! A condição! A vida!
- Então é a ela que temos de prestar contas, e apenas nos limitarmos a viver, sem mais.
- Vais viver sempre em contradição, Ema, tu e toda a gente...
- O verde fica bem com o quê?
- Com o amarelo de um limão.
- Então é isso que vamos fazer hoje. Apanhar limões por aí.
- Roubar?
- Qual quê! Apanha-los, e junta-los ao verde daquilo que eu não faço ideia do que é. Mas que se tornou importante, desde que tu mo referiste.