Neste cubo, que de mágico tem pouco, tentei trocar as voltas. Ou ainda não..., é cedo..., é sempre cedo. É cedo para comer e tarde para alimentar.
Espreitei distraída por uma das inúmeras janelas estreitas daquele feio condomínio. Serão mais de mil? Diria que sim, após uns bons cinco segundos em que a informação captada pelos meus olhos semi-cerrados, atacados pela clara luz daquela desconfortável manhã, fosse lenta e pesarosamente percepcionada pelo meu cérebro. Seria só eu que não estaria a pensar?
À minha volta, figuras enfiadas em fatos clássicos, pretos, ensacados e suados, mexiam e viajavam de um lado para o outro freneticamente, numa obrigação mecânica. Trocavam-se nos mesmos pontos, percorriam as mesmas linhas pré-estabelecidas todos os dias às oito da manhã, (a contar com os cinco, dez minutos de atraso...), como pinipons sem graça, enfadados e escuros, viajando sobre carris de brincar.
Voltei a olhar para a pequena e suja janela. Estava abafado lá dentro. Por certo que nas janelas iguais, da fachada em frente, igual, estariam criaturas...iguais. O mesmo ar consumido.
Sim, estávamos todos encerrados numa pequena, enorme caixa cinzenta e uniforme, com um falso jardim no meio, no qual quase me pareceu ver um sorriso amarelo de quem diz: Sim, estou aqui, para fazer de conta que este lugar até que é aprazível e até que é...natural?. Oh e é , e é chefe! P'ra semana estarei a passar uns dias de férias com a minha mulher e os meus filhos num aldeamento com jardim e piscina com ondas...(...)", "apanhei" no ar e desliguei de novo. De olhar perpendicular à fachada da frente, daquele velho condomínio, tentei em vão captar cada janela, aleatoriamente, num jogo infantil de quem procura um pinipon colorido a fazer o pino, ou quiçá um outro elegante a dançar o tango de rosa vermelha na boca, sobre uma das compridas mesas de madeira, ou então, porque não, um pipipon palhaço a oferecer flores aos demais... Não quis controlar uma curta e baixa gargalhada que soltei para os meus botões, perante o olhar indagador dos meus colegas pinipons mais próximos. Porém, nem eu tinha visão-lupa, nem algo me surpreendera.
As minhas mãos continuavam a fazer o meu trabalho, sem que eu desse por isso, obedientes, ligeiras, mas com o eterno quebrar de pulso que me acompanha desde os seis anos.
Procurei concentrar-me, e na minha cabeça, uma réplica em miniatura do pesado condomínio, apareceu sem aviso sobre um fundo negro, desdobrando-se. Eu, divertida, rodei as faces que se tornaram coloridas, rodei rodei,...Agora este quadrado verde na face verde do cubo!...esta quase, esta quase...BOLAS! Agora desmontei a face amarela...!!, num contínuo girar de faces planas e geométricas policromáticas. Eu sabia, estava quase, estava quase... e o desenho quase pronto...! E o escritório estava agora vazio. Vá lá ihihihihih!- gritavam duas vozes agudas em coro, por entre risinhos estridentes e felizes.- Agora não vais desistir! ihihihihih!. Senti as bochechas pulsarem rubras, e os olhos a brilhar como estrelas fitando o cubo que se encontrava agora acompanhado lateralmente dos pequenos personagens por mim rascunhados no verso de uma das folhas de papel, que descansavam sobre a secretária de metal. Gritavam em uníssono num apoio faustoso e incondicional, perante a minha grande tarefa.
Tocou o telefone, e uma voz monocórdica e distante disse em palavras mal articuladas : H'ra d'almoço!.
O cubo e os meus amiguinhos irritantemente felizes apagaram-se num pequeno mas sonoro *PLOC!* da nuvem palpável da minha mente.
Ainda é cedo..., murmurei eu baixinho. E o cubo reconstruiu-se através daquela, mais uma das mil janelas; Enorme, uniforme, serôdio e totalmente cinzento. Estava feito, terminado, e eu...oh, eu também nunca fui fã de jogos de paciência!
Espreitei distraída por uma das inúmeras janelas estreitas daquele feio condomínio. Serão mais de mil? Diria que sim, após uns bons cinco segundos em que a informação captada pelos meus olhos semi-cerrados, atacados pela clara luz daquela desconfortável manhã, fosse lenta e pesarosamente percepcionada pelo meu cérebro. Seria só eu que não estaria a pensar?
À minha volta, figuras enfiadas em fatos clássicos, pretos, ensacados e suados, mexiam e viajavam de um lado para o outro freneticamente, numa obrigação mecânica. Trocavam-se nos mesmos pontos, percorriam as mesmas linhas pré-estabelecidas todos os dias às oito da manhã, (a contar com os cinco, dez minutos de atraso...), como pinipons sem graça, enfadados e escuros, viajando sobre carris de brincar.
Voltei a olhar para a pequena e suja janela. Estava abafado lá dentro. Por certo que nas janelas iguais, da fachada em frente, igual, estariam criaturas...iguais. O mesmo ar consumido.
Sim, estávamos todos encerrados numa pequena, enorme caixa cinzenta e uniforme, com um falso jardim no meio, no qual quase me pareceu ver um sorriso amarelo de quem diz: Sim, estou aqui, para fazer de conta que este lugar até que é aprazível e até que é...natural?. Oh e é , e é chefe! P'ra semana estarei a passar uns dias de férias com a minha mulher e os meus filhos num aldeamento com jardim e piscina com ondas...(...)", "apanhei" no ar e desliguei de novo. De olhar perpendicular à fachada da frente, daquele velho condomínio, tentei em vão captar cada janela, aleatoriamente, num jogo infantil de quem procura um pinipon colorido a fazer o pino, ou quiçá um outro elegante a dançar o tango de rosa vermelha na boca, sobre uma das compridas mesas de madeira, ou então, porque não, um pipipon palhaço a oferecer flores aos demais... Não quis controlar uma curta e baixa gargalhada que soltei para os meus botões, perante o olhar indagador dos meus colegas pinipons mais próximos. Porém, nem eu tinha visão-lupa, nem algo me surpreendera.
As minhas mãos continuavam a fazer o meu trabalho, sem que eu desse por isso, obedientes, ligeiras, mas com o eterno quebrar de pulso que me acompanha desde os seis anos.
Procurei concentrar-me, e na minha cabeça, uma réplica em miniatura do pesado condomínio, apareceu sem aviso sobre um fundo negro, desdobrando-se. Eu, divertida, rodei as faces que se tornaram coloridas, rodei rodei,...Agora este quadrado verde na face verde do cubo!...esta quase, esta quase...BOLAS! Agora desmontei a face amarela...!!, num contínuo girar de faces planas e geométricas policromáticas. Eu sabia, estava quase, estava quase... e o desenho quase pronto...! E o escritório estava agora vazio. Vá lá ihihihihih!- gritavam duas vozes agudas em coro, por entre risinhos estridentes e felizes.- Agora não vais desistir! ihihihihih!. Senti as bochechas pulsarem rubras, e os olhos a brilhar como estrelas fitando o cubo que se encontrava agora acompanhado lateralmente dos pequenos personagens por mim rascunhados no verso de uma das folhas de papel, que descansavam sobre a secretária de metal. Gritavam em uníssono num apoio faustoso e incondicional, perante a minha grande tarefa.
Tocou o telefone, e uma voz monocórdica e distante disse em palavras mal articuladas : H'ra d'almoço!.
O cubo e os meus amiguinhos irritantemente felizes apagaram-se num pequeno mas sonoro *PLOC!* da nuvem palpável da minha mente.
Ainda é cedo..., murmurei eu baixinho. E o cubo reconstruiu-se através daquela, mais uma das mil janelas; Enorme, uniforme, serôdio e totalmente cinzento. Estava feito, terminado, e eu...oh, eu também nunca fui fã de jogos de paciência!
2 comentários:
Que coisa esquisita. LOL A mente alheia não é fácil de perceber. Minha interpretação: acho que estavas a abordar a azáfama do dia-a-dia, a forma amorfa e autómata como as pessoas se movem nas suas vidas. A cena do cubo interpreto como uma alusão à multiplicidade de estímulos e de problemas que aparecem, e a uma pessoa a tentar desenvencilhar-se bem naquilo que tem de enfrentar, assim como alhear-se de toda a confusão num plano alternativo e mais pessoal. Está próximo? Beijos e abraços.
Uma boa interpretação, daquilo que "procurei" que fosse bastante subtil, subliminar e até,naife.E como sempre, fluido.
Bem-vindo ao cubo mágico ;) lol
Bjinho, obrigada!
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