quinta-feira, 8 de outubro de 2009

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Podia, do verbo "Dever", estar a escrever uma qualquer dissertação, reflexão, ou o que seja, sobre o aquecimento global, e o poderio das financeiras e mercado consumista, e as pessoas, e as massas, e as energias alternativas, e a destruição da placa terrestre, e...e... , mas não! Assunto mastigado, nunca seria minimamente original, aliás nem faço questão. A nossa Casa Azul esta mais ou menos por nossa conta, e eu vou-me lembrando disso com carinho e alguma responsabilidade. Mas não me peçam para escrever sobre o que toda a gente já escreveu, porque não vou dizer nada de novo. Não que partilhe para inovar ou surpreender, mas ao fazê-lo, que o faça sem o "peso" da polémica e do grande.
Verdade que o que nos envolve, dá chão, e é milhões de vezes maior do que nós, abrange o suficiente para que o julguemos em silêncio. É demasiado grande, grande em número, em multiplicidade. E isso faz com que a consciência emocional seja três, quatro vezes maior que as quantidades numéricas. Ter-se "tamanho" para abarcar justamente, presente, este monstro cheio de ramificações, é uma causa, não um estado de espírito.
E não me apetece apostar num bonito texto sobre isso. Não tenho nada para dizer. Nem muito bonito seria. Apetece-me enroscar-me em assuntos medíocres, egoístas e pequenos, que encandeiam o meu percurso diário. Desde o que percorro apressada todos os dias, passando por imensos turistas discretos e interessados nas pequenas lojinhas de artesanato, que emolduram a longa e estreita rua que liga a praça central à Sé da amistosa cidade, ao que corro todos os dias quase de olhos fechados de sono, entre o meu quarto e a casa-de-banho.
Faço-os a correr, tenho pressa, não lhes agradeço passagem. É garantida. Não vou questiona-lo.
Na minha cabeça vagueiam procuras. Procuro contar as vezes de total presença física e disposta, em que simplesmente o meu cérebro estava sentado, possuindo uma senha, esperando a sua vez ,que se prometia breve. As vezes em que estava limpo e não pensava em absolutamente nada para além da mensagem visual concreta do momento.
Não me lembro de nenhuma vez em que tal tivesse ameaçado acontecer. Nada de novo. Pensava, portanto, mais uma vez em coisas banais e inúteis. Eu era banal e inútil, e corria para não chegar atrasada, para fazer o que tinha de fazer. Pois tinha..., tinha, pois!
Tudo e todos procuravam mostrar a sua importância, e o mundo continuava em silêncio. Ele nunca me bateu à porta choroso, lamentando suas crises existências. Dou-lhe 0.0000001% de poupança por cada mês, ele da-me chão, ar, o sol e a lua (...). É justo. A sério que é. Ele da-me, eu poupo-o. Ando à chuva, sento-me na relva, bebo água, sorrio por cada coisa que gosto, ouço trovejar, abro a janela, choro só porque sim se esta cinzento, como limões à dentada. Amar pode ser isto. E o equilíbrio esta na forma natural com que tudo acontece.
A minha cama de madeira, permite-me pensar desta vez deitada, sempre sem descansar... Lembro-me do teu nariz perfeito de quem se insinua sem se impor. Lembro-me da tua testa alta de quem redige o que planeou em cada manhã. Lembro-me dos teus olhos brilhantes e negros, de quem perfura ao de leve cada quadro. Lembro-me da tua elegância e segurança nos gestos, de quem seduz e é capaz. Lembro-me da tua voz grave e grossa de quem sublinha sua presença e palavras ocasionais.
A Natureza é perfeita. É perfeita porque não foi ela que teve a ousadia de sugerir a palavra "perfeito". É perfeita, porque ontem olhei para ti e tu és tão perfeito quanto os demais que se mantiveram por mera eventualidade em silêncio. É perfeita por ontem, e por hoje, e por amanhã. É perfeita, porque não tem a quantidade catastrófica de defeitos que tu e eu que subsistimos nela, temos. É perfeita porque me fez capaz de olhar e, por vezes, ver. Fez-me capaz de gostar. Fez-me capaz de não saber, de sofrer por ter, e incapaz de não ter. É perfeita.
Não me dá fórmulas certas porque sabe que não quero acertar sempre. Não me dá gráficos para que eu tenha consciência de quem passa fome do outro lado. Não me dá dinheiro em sacos, porque sabe que preciso de me levantar.
E assim escolho o meu caminho. O de percorrer de cara suja o corredor entre o meu quarto e a casa-de-banho todas as manhãs. O de subir a rua das lojas de artesanato e observar por instantes os turistas que as enchem. O de te observar por uma noite e avaliar os teus traços. O de poder tornar real cada imbecilidade do meu ser, inútil, comum. O de poder olhar para a Lua sentada na janela aberta. O de gostar. O de poder ter uma pequena história, ilusoriamente ou não, só minha.
Amar pode ser isto.

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Em jeito de bons vivants desparasitais, vejam um bom exemplo aqui!
Não sei o que foi feito do lixo não orgânico e/ou inutilizável, mas sei que esta marcada já a data portuguesa para o efeito: 20 de Março de 2010.
As inscrições fazem-se aqui!

Imagem em Deviantart

1 comentário:

Anónimo disse...

Poderosa a iniciativa da Estónia... Não sei se Portugal consegue... Uma coisa que me faz bué de impressão é isso mesmo, de passar numa mata qualquer que seja, e ver as margens atoladas de lixo! Dass! É pacotes disto, pacotes daquilo, papéis, plásticos...! Eu não percebo como é que é possível não ter a sensibilidade de entender que se está, no mínimo, a estragar a paisagem e um espaço que podia ser tão atractivo para nós mesmos. Não seria tão melhor, passar por aquelas zonas, algumas destinadas a turismo, a convivência ao ar livre, e desfrutar da natureza em redor, sem ter que deparar com carradas de lixeira? Amar pode ser isso. LOL Já num âmbito diferente... enroscando-me em assuntos mais egoístas, como tu disseste... Antes de limpar a floresta queria limpar a minha mente... lol É assim... Beijinhos