Deixava-se encostar nos ombros da besta, porque seu dorso era quente. Porque este se vergava, se esticava ao comprimento da noite, que ajustava o dia em poucas linhas entrançadas. Numa tira de fios minimalista, bela, com princípio meio e fim.
Encostava-se esgotado, com dificuldade em respirar. E ao contrário da bondade, era acaso sem segurança, sem conforto.
Continuava tenso, embora pendurado no calor do corpo mal esculpido e deselegante do assombro. Sofreava a bagagem impune e por demais pesada que trazia na alma. E tudo o que ouvia, era apenas o eco dos roncos da respiração da besta sobre o silêncio. Olhava a luz e a sombra no chão.
Alguém abriu a porta ao fundo. Não se mexeu.
Passos apressaram-se a entrar, ressoando como cascos no mármore da sala, e dirigindo-se do lado da penumbra a ele, ouviu;
Desaparece daqui!
Alguém parado, vindo do alto com tom pretenciosamente sereno e concreto encontrava-se perto.
Finalmente ele mexeu-se. Olhou para cima a custo, e procurou visualmente o vulto que se encontrava agora tapando o único rasgo de luz no espaço.
Procurou-lhe a boca. Procurou-lhe o porte. As feições. Mas em contra luz não lhe viu nada.
Assim, limitou-se a segredar-lhe com desinteresse na voz e no gesto;
Talvez da próxima vez... Talvez da próxima vez nos encontremos.
E voltou a encostar a cabeça a peso contra o ombro da besta, que colossal, continuava a ressonar, adormecida.
1 comentário:
Muito, muito bom!
Cat
Beijinho
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