domingo, 1 de agosto de 2010

Buraco de alfinete

Inconsolável o som do lamento.
Inconsolável a vontade anti-natura de não escolher quem e como querer.
Minto todos os dias.
Minto-me todos os dias.
Numa incapacidade débil que me arde no ventre e me irriga as mãos de vazio.
E à noite, quando a culpa me abraça e me suga o sangue, sei.
Sei da fatalidade constante.
E sou fraca. Morta.
Sou o engano multi color. Da vida. O anseio da ousadia. O odor da libertação.
E a lua sobre a ponte do Douro, e os lençóis arrancados de uma cama, que não têm como contar uma história, morreram hoje em mim. Comigo.
Como no dia em que contei-me a verdade no rio molecular de enganos, que me conduz ao acaso do desespero. Contra as rochas. Longe da margem.
Não quero ser amada.
Sou a capa das metáforas.
O cerne não esconde nada. Absolutamente nada.
Nem alegria. Nem humanidade. Nem calor. Nem sequer a taquicardia de um coração doente.
Não esconde nada. Nem respira.
Gosto da brisa quente no rosto...
Da música do bar de praia...
De um piano...
De bom gosto e histórias de amor...
De chocolate, e sentir-te a pele...
Então...
Quase que podia dizer amar.
Mas não amo.
Escarro.
Escarro a vida.
Escarro sorrisos.
Escarro a vontade.
Escarro a verdade, e minto indiferença.
Escarro todos os dias...um pouco de mim.
E sinto-me morrer na ilusão suprema de escolher os meus passos.
E hoje, no meio da rua vazia, tentei escarrar de novo...
Mas secara-me a boca.
Secara-me a alma.

2 comentários:

Anónimo disse...

Gosto de tudo o que escreves =)

Continua!

blackbird disse...

Não sabendo da identidade do "emissor", agradeço! :)