terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O meu seio contra a arma.


Corria mais rápido que o vento, praia fora. Estava frio, e ela suava. E o frio fazia-a suar mais. Tinha a boca seca. E a garganta era-lhe asfixiada pela saliva. E ela tremia, e não sentia as pernas que já não tocavam a areia. O rumo afunilou-se à sua frente e ela tentou correr ainda mais, para acabar tão somente com aquele pesadelo que lhe martelava como tambores gigantes nos tímpanos, e lhe feria a réstia de sangue que lhe percorria a custo no crânio. E já não conseguia parar. E já não tinha pernas.
O que raio haveria no fim de tudo aquilo?! Daquele gelo cortante. Imagem branca da imensidão tão vazia como o seu peito, que mais não era que grades largas que cobriam um velho barraco cheio de lixo. Cheirava mal, estava podre, mas o seu hálito sabia a maresia da madrugada.

Já voava. Com asas cor de pedra, mais largas que a margem. E ela, entre elas, perdia-se como um pequeno fuso tosco. Uma mancha enegrecida sem qualquer significado.
Só as asas a faziam voar.
Mas que já era ela? E que raio era tudo aquilo? E que raio era o que deixou para trás? E que raio eram eles? E que era ela com eles?!

Não era nada. Não podia ser nada.

Como que quebrando o sufoco num repente brutal, tropeçou e caiu.
E então tudo permaneceu, a girar hipnóticamente à sua volta sem parar. Uma e outra vez. Misturando imagens, fazendo-se uma. E de uma, uma mancha. E da mancha, ela. E dela, apenas uma cor. Uma sombra compacta sem textura nem pigmento. Envolta em coisa nenhuma.
Tinha afinal um pé partido, e as pernas doridas. Agora sim, via o chão. Sentia-o no seu corpo pálido e doente. Agora sim, estava caída de cabeça afundada na areia, como que lamentando a sua glória imunda, de encontro às portas do inferno.
Abriu os olhos. Estava estendida no areal. Com a pele a estalar desidratada pelo sol do meio-dia e das gentes de quem o mar apagou as pegadas.
Quis segredar por socorro.

Mas quando entreabriu os lábios, adormeceu.

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