domingo, 3 de outubro de 2010

caixa-segredo

Se finjo mais do que posso... a melodia que vos canto em segredo, só será perfeita se vos confundir no ouvido antes de vos chegar ao raciocínio. Se assim for, será perfeita.
Poderia acompanhar-vos com um tango, no qual o meu corpo coberto de escarlate aveludado, ondularia centrado num qualquer ego, vaidade por entre sombras. Requebrando sensual. Mordaz na tensão dos membros. Quente... A escaldar. Quase, quase perto de vocês...
Seria então uma mentira activamente inacessível. Interventiva de presença.
Mas parei.
Tendo a talhar a minha própria placa de metal de alguns milímetros, com pequenos e finos sulcos que vou estudando ao acaso da falta de emoção da verdade.
Construí um modesto mecanismo de manivela, colei-o cuidadosamente numa outra placa de madeira leve.
O meu último silêncio...advém da paz inteira que me tenho oferecido, quando pinto agora a caixa de cartão que envolverá o meu segredo.
A música será assim. Sem mais nada.
E se finjo mais do que posso, saberão apenas quando girarem a manivela prateada.

1 comentário:

João Ricardo disse...

sempre na procura do caminho da verdade... pois a verdade é o que é certo. sem dúvida. pelo menos para mim!