quinta-feira, 11 de março de 2010

Mel


Ninguém é completamente feliz, pois não?

Nem os heróis dos clássicos da grande tela..., nem a personagem linda e corada, de caracóis loiros ao vento, do velho romance de cabeceira. Nem o remate momentaneamente reconfortante do E viveram felizes para sempre dos contos de fadas, é sequer uma promessa de Paraíso.
Nem as abelhas são completamente felizes na sua legítima e competente missão. Também sentem a morte, e o perigo, a infertilidade e a inconsciência humilde.
Porque o seriamos nós? Nós, que nem sequer tivemos o (in)digno direito à predestinação saudável...!
Trago o infortúnio todos os dias escondido no fundo do peito. E sei que todos os dias perdi alguma coisa apenas por sorrir e ganhar mais um dia de vida. Ou algo muito parecido com o mesmo nome.
Sinto essa perda como a ternura de um beijo de boa noite, antes do apagar da luz do quarto. A cada vitória secreta, choro por dentro.

Sabes... é o vento que se faz ouvir em mim. Fala-me de amor e rascunhos... Conta-me histórias de outros lugares e eu sinto-o abraçar-me, e, já envolvida, contento-me com o que me quer dizer. Abraça-me porque é o mensageiro oficial da mentira. E fá-lo com honra, verdade... Sem ele a verdade seca e crua matava-me. E eu... que tinha eu para lhes dizer?
Por vezes, quando me deixa só..., fraca, esqueço-me de o pregar ao mundo. Leviana, mergulho em quem me cativa. E deixo, ignorante, as palavras perdidas ao acaso no silêncio. Não o tenho mais a segredar-me no que acreditar. E num impulso ingrato, deito tudo a perder... numa ousadia impertinente às portas da verdade suprema.
A pena não tarda a ameaçar, e depressa sou obrigada a fugir.

Sou demasiado pouco para me deixar vê-la e ser apenas humana.
O vento contou-me histórias que eu lhes conto como minhas... E abraça-me.
E foi por isso..., foi por isso que nunca fui capaz de o trair, de sequer ousar troca-lo por um só e celeste abraço carnal.
O crime perfeito finge-se sempre à medida da nossa mão.
Não descuides tal motivo...!
Como a abelha que finalmente age de vontade e traça a existência quando pica...
É ingrata a imprevidência!
E eu já não descuido a morte.
Já não descuido o dia...
E daí, que já não me importará a hora...
Foi por isto.
Foi por isto e tanto que, hoje, não te abracei.


Até lá..., acredita que me vou deixando por termo aos poucos, por entre o descuido da, para sempre nossa, utópica liberdade!
É por tal motivo impagável, por ti..., pelo outro..., por ele... E por quem ainda virá... Que certamente valerá a pena morrer!
(Única e suprema certeza.)


Imagem em Deviantart

7 comentários:

João Ricardo disse...

Colmeia Mel? Encontrei este teu "espaço" por mero acaso. Pareceu-me bem apenas parabenizar-te. Está bastante interessante! "Aiiii contado ninguém acredita...". Continua... ;)

blackbird disse...

Obrigada Joao!! Seja bem-vindo! Ainda tentei dar um "salto" ao seu espaço, mas esta privado.

Enfim, Fon Fon Fon Fon...!

Cumprimentos :)

João Ricardo disse...

Não tens que me agradecer por apreciar o facto de partilhares arte de tua autoria. Também não tens que me tratar pelo pronome você, por três razões: ao contrário do "aceite socialmente", o pronome "você" usa-se também para pessoas de inferior "estatuto" ou condição (seja lá o que isso for); pela perspectiva egoísta, pessoalmente gosto mais de tratar as pessoas por tu; e, depois de ler algumas coisas tuas senti algo que não sinto todos os dias, pelo que prefiro o "tu" por ser mais pessoal!
"O meu espaço"... na realidade não tenho um do tipo blog, assim como o teu. Adoro arte, embora não tenha o "canudo" de artista. Daí a vontade de congratular-te.
Aqui vai mais um grão... :)
Beijos

blackbird disse...

Bem, pessoalmente devo concordar, então, contigo. Concordando com o facto de que "tu" é bem mais desprendido dos vários conceitos sociais e afastamentos de "fachadas". Mas de uma forma menos "egoísta", pondero e opto pela hipótese de não partilharem de semelhante opinião.
Ah, e não descorando de todo... O canudo são portas, mas os mais altos voos, geralmente partem das janelas.;)

João Ricardo disse...

Gostei da perspectiva "menos egoísta"... bem como dos altos voos partirem das janelas! Nunca tinha pensado nisso dessa forma.
Permite-me uma questão: sei que corro o risco de repetir outros, no entanto, porquê 7,5?

blackbird disse...

Bem...tentando resumir... Para além do significado pessoal, o sete tem múltiplos significados, e está associado às diferentes áreas/vertentes, em vários temas.
Mas como tudo o que é inacabado, há sempre o que é a mais e inútil, o que fica pela metade. E, em jeito de duplo sentido, existe o demais que o conhecimento factual...; O aprofundamento e/ou divagação criativa(s)..., processo longo de auto-conhecimento, que termina no final da vida, sempre incompleto ("...e meio"): Competência do chamado lado direito do cérebro.
Enfim...Para além de tudo isto, os factos de estar escrito por extenso, e de não ser um número inteiro, é subtil ironia, dado que não vou muito à bola com números.
And so... more or less clear, I hope!

João Ricardo disse...

Ficou bem claro... Após captar os dados fornecidos por ti com o lado esquerdo, fui capaz de os perceber e interpretar usando o lado artístico :). Além de artista tens pontas de cientista. trés bien (já que também te dás às línguas)