domingo, 29 de julho de 2012

Desta; P de Purpurinas

Olhei para a sua perna, e vi brilhos. Daqueles que se compram colados nos enfeites das lojas de decoração e pechisbeques criativos. A sua perna esquerda dobrada, sobre o lençol nos tons da meia luz do quarto, à alusão dos meus olhos entediados por ali vê-la sempre fechada em si num silêncio nebuloso, tinha brilhos sobre a pele. Cristais de plástico metalizado. 
Contei-lhe.
Todos os dias, a via nua de frente ao espelho, a medir as proporções apenas dos seus pés que, dizia ela, se deformavam à medida que o tempo e a vida lhe faziam o íntimo mais feio e imbecil.
E eu, nunca lhe diria que os seus pés eram perfeitos e os mais belos que alguma vez vira. Jamais a obrigaria à minha intenção tão tensa e obtusa de a amar. Ainda que fosse verdade.
Contava-lhe as ilusões do corpo, como histórias para adormecer. E antes de adormecer, sorriamos sem nos lembrarmos de nada. Soltos dos braços um do outro, e de pés cruzados no desajeito da mútua presença tão sublime, ao fundo da cama.
Nunca fomos dos que precisavam de acreditar.