sábado, 21 de julho de 2012

Controração da virtude

E no regresso, da algibeira sacou um pão seco, num gesto redondo e teatral. Devia a esse naco de água e farinha, que morreu ao fim do dia, uma pleonástica intenção de afecto.
Mascou-o com desenvoltura, e um sorriso de boca aberta, enquanto olhava o fundo da passagem de pedra encardida em muros altos.
Ele, ele era filho de Deus. Desse, que o desconhecia à distância da humanidade.
Sabe-se lá.
Pelo centro e ao fundo da passagem escura, o sol já os deixava, desta vez, com a pressa suficiente de uma partida lídima depois de tanto tempo incerto. Talvez fosse ter com O das alturas. O de lá. Deus.
Pois que era provável que Este nem o esperasse, visto não o precisar, a cima.
O Ele, seria Ele de quem? Deus do quê? Se é Deus, é de. E ser de, poderia significar pertencer.
Deus pertence. E ao que pertence, comanda.
É da natureza do universo fazer-se precisar no espaço dessa mesma exacta vontade do seu semelhante.
Mas porque calhou ao universo, ser o maior e mais amplo. O das alturas.
O Deus que alguém escreveu que capitaneou a pregação do querer-bem. Porque do topo da cadeia, tudo o resto se come. Seja o que for.
Porém que venha! Pois a fome é a morte mais conhecida de tudo o que finda à plenitude.
Não há nada que se negue à vontade de se vingar na procura do sustento. Tudo é, porque mais o mantém.
E de amor... Amor. Só da sua algibeira velha, ao enlutar do dia, se podia sentir, duro e morto, o pão que lhe prolongou o caminho negro, a baixo das paredes sujas.
Para onde o maior ia, a pouco lhe sabia para matar a fome. O Pai.
- Oh Pai..., oh que te mantenho e que te sou ingrato, porque me guias na cegueira desse trono!
E neste fim, grato pelo naco, então, sagrado, eu desenho uma larga vénia às migalhas caídas na ladeira.
E Tu estremeces do paraíso aquando me ergo de novo a caminho, sem saberes o que Te perturba.-

E ambos não tardaram a adormecer, sobre-tudo.
Ou Ámen.


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