terça-feira, 8 de março de 2011

S'oro...

Não sei escrever. Tem dias que sei que qualquer coisa só. E geralmente nem são de se referir. Porque são de mim ou para comigo.
Sei; Quando vou ao médico, e ele, ao pegar numa pequena espátula de madeira, pede-me em jeito predefinido; Abra a boca e diga "Áh"!, e eu orientada, escancaro a boca, espondo-a até à uvula sem ponderar, e solto um tosco "ÁaAAaah!".
Sei disso, porque ele vê-me inteira num segundo e noutro faz-me o diagnóstico. Ao levar a receita para casa, ainda ofereço capital pesado, sem que isso me faça ir de bolsos mais leves para casa.
Sei mais ou menos disso, sem que ninguém me contradiga.
Depois, nunca mais volto a ver tal homem de bata branca tão perto de mim, de lâmpada agarrada à testa a apontar-me para o intimo. Nunca mais até outro dia qualquer igual, numa sala de espera enfadada de cheiro a gente e moléstia.
Depois, existem aqueles que com uma chávena de chá quente de limão, trazem-te à cama o placebo (quero acreditar sempre que o seja, fundamentalmente).
É, depois existem esses.
Acreditam-te calada, de boca fechada num sorriso. Meramente pálida. E tratam de ti consoante o estranho que te pediu a primeira letra do abecedário à maior força vocal. Pela bata branca talvez...
Mas tu acreditas que ele-estranho é que sabia. Assim como sabes que o chá faz-te bem e é feito de vontades.
...Patologia grave, a minha.

E quem disse que é da sorte ou do acaso, do valor ou da vontade..., certamente que morreu inteiro. Inteiro de verdades comprometidas. De duvidoso horizonte.
Eu digo só que a culpa é tua.
Sim, tua.
Que me deixaste à chuva sem chave de casa. Que me deixaste mil cigarros numa só caixa à cabeceira. Centenas de garrafas de wisky escondidas no armário. Incontáveis e indomesticáveis insónias. Demasiada comida estragada e água impotável.
E ainda que possa falar do que me levou até ti, e do que antes de ti te trouxe, nada me levaria agora a não dizer que a culpa é tua desta enfermidade explícita.
Que a tua falsa felicidade incapaz, faz assim de mim uma franca infeliz mentirosa.

De mim para comigo, assim mesmo em escrita doente, articulo este défice da base gramatical; É doença, a culpa. E é agora tua.

A culpa é tua.

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