sexta-feira, 28 de maio de 2010

A mentira da verdade... Essa fatalidade.


Sem beleza.
O amor é bem mais venenoso que o ódio, o rancor, ou até a vingança. Diz quem não sabe. Digo eu.

É a traição por excelência quando não é opção.
E afinal tudo é opção a partir do momento em que cedemos a uma qualquer tentação. Seja ela assombrosa, capricho, ou mera fraqueza interior. Seja ela todas as hipóteses anteriores.
Saber distingui-las ao mesmo tempo que se vive no mundo em lista de espera, é sermos impiedosamente atirados, um a um, para o poço negro de lama de excrementos podres.
O poço das prioridades. O poço do limite da autenticidade. O poço da felicidade hipócrita.
Após o pânico de tal armadilha integral, a adrenalina retorcida da queda livre. E de novo o pânico... E depois a dor... E depois o odor e o medo... E depois a consciência vazia de todos eles.. Já no fundo, onde ainda entram tímidos raios de Sol.
Andamos, assim, às cegas entre o tacto e o fedor que nos sufoca o olfacto. De cócoras em busca da melodia da estabilidade, como animais perdidos de instinto. Figuras ridículas e cabisbaixas à brisa agreste da superfície.
Há quem procure o amor sem saber como. Como quem levanta ao acaso copos todos iguais invertidos sobre uma mesa, em busca do brinde escondido. E simplesmente lhe perca ao sentido.
Há quem nada procure, e não sabe quando encontra.
Há quem tenha medo.
Há quem fuja e se refugie na ambiguidade de uma filosofia de vida.
Há encontre e tenha a coragem e a iniquidade suficientes para o deixar escapar por entre os dedos.
Como a água que não se deixa empunhar, nada é nosso. Nada nos pertence.
E ainda assim mantemos ao longo de uma vida inteira uma série de coisas que acreditamos querer. Poder ter.
Mentirosos pela mesma máxima: a felicidade!
Uma velha beata de cigarro num cinzeiro inquinado ao meu lado, dir-me-á bem mais que se me escreverem em tinta delicada as palavras amor e felicidade.
Tomo a coragem de amar a hipótese, e quando quase tudo parece florescer ao som do sucesso..., de novo o galo dos pontos cardeais do meu telhado cede ao estado do tempo.
E vem a tentação. O novo desconhecido. A ameaça da paixão. E do mais e maior que eu.
Quem me julgo para poder magoar-me assim?
Para puder magoar-te?
Quem me julgo, no entanto, para resistir ao apetite do que me rodeia?
Eu quero ser arrogantemente maior do que posso!
Ingenuamente de distantes e difusos horizontes!
A contradição do que quero e que nunca será meu!
Quero não ter. Quero provar. Porque só assim saberei dizer-vos a minha paz. (Só?)
E se um dia, mais tarde, me voltarem a perguntar:
Porque falas assim comigo?!
Eu finalmente saberei responder com um silêncio inteiro. Certo de serenidade.
E sorrirei com os olhos brilhantes de sabedoria e mágoa, pares.

E assim sendo, quanto a agora, de cócoras no escuro procuro, no meio de fezes e fedor, a hipocrisia da dignidade coesa.

Perdoa-me.
Perdoa-me fielmente.
Que o papel do julgamento permanecerá intacto.

2 comentários:

João Ricardo disse...

Imagina uma macieira. Aquando do tempo certo, podemos colher as melhores maçãs. Não seja no tempo certo, e podem ser mais azedas, não maduras. Também podemos esperar que a gravidade faça o trabalho por si e as maçãs ao cairem têm grande probabilidade de se esborracharem no solo!

e as outras disse...

brilhante. como sempre