quinta-feira, 6 de maio de 2010

Descarto à Memória

Como dizer que já pintei as portadas da janela do quarto, e que agora já não dá para ficar?
Pintei-as às cores, sem que isso se traduzisse nos tons serenos e pesados da minha alma.
Fechei a janela, e tapei aquele poço de sombra e cheiro nauseante a retrete.
Quando ao princípio da tarde bati com a porta da rua, rumo apenas à calçada, mais uma vez atrasada para tudo o que me pudesse esperar..., apercebi-me de que se fazia Sol outra vez.
Sabia que era outra vez sem ter sentido o do dia anterior. Mas se assim era, provavelmente no dia seguinte fazer-se-ia de novo Sol.
Quem se rala?
Respirei fundo, sem sentir arquear o diafragma com gosto, e tentei focar o fundo da rua, aquando os meus passos desritmados avançavam.

Na esplanada do café em frente à grande fonte, ouviam-se os pombos que passeavam no chão, rondando os pés dos que bebiam o gelo do fundo dos copos lentamente, em busca de restos de conversa que ficou antes calada ou despercebida entre migalhas.
Sem parar, assobiei num esgar desabituado de lábios, e cumpri a melodia das coisas imutáveis. Dos prantos planeados e intuitivos. Da contradição dos meus dias perante a vida maior que eu.
Dos desacertos fiéis.
Estava de novo a caminho das insónias doentias das madrugadas. Costume, rumo à injusta genuinidade que me fez parar, desde que me lembro de ter crescido, naquele dia que digo que ainda não conheci.

1 comentário:

Filipe Faria (Colombia) disse...

Acho que também eu, este ser cúspido de melodias fantasiosas, tenho desacerto fiéis.