quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

E mais coisas que não são minhas.


Apercebi-me de que nenhum de nós é especial. Nem tão pouco passou por experiências espectacularmente únicas, e indecifráveis, e incomunicáveis. Que nenhum de nós tem o poder de com agradável ironia julgar ingénuo o que o outro disse. Que nenhum de nós é capaz de um silêncio de sabedoria sobre as palavras do outro. Que nenhum de nós, é nós ou nenhum.

Ontem acordei suja. Senti-te nojento, juro. E és. Somos. E também não vou jurar..., é tão real em mim que não merece tal reforço. Senti-me bem menos que simplesmente banal..., senti-me vulgarmente banal. A primeira é maravilhosa. A segunda um tiro no meio da testa.
Não posso tolerar esta minha cobardia na falta de luta. Na falta de enlace de armas. Largo sempre a espada antes do ataque, e sabes porquê? Porque nunca pertenci a uma guerra.
Contigo não seria diferente. És mais alguém. Não és mais um, porque nem podias ser. Eu não faço mapas nem planos, eu dobro as esquinas e encontro sem querer..., dou um empurrão sem querer..., espicaço sem querer..., julgo sem querer..., analiso sem querer..., vejo sem querer..., agarro e morro sem querer. Largo, deixo morrer, continuo, paro. Sem querer. Tudo sem querer.
Quero tanto não saber o que faço, que me traio a toda a hora mesmo sem ninguém o notar.
Acredita que não interessa de onde vim... , porque se to pudesse um dia contar, não teria espaço para ver mais ninguém..., sem querer.
Acredita que não importa nada do que sou feita. Até a alma às vezes é remontada com legos, vê bem..., um dia vias um dragão, noutro dia um pequeno pássaro. Num dia verias árvores, noutro uma casa.
Nem tu quererias saber disto.
Se eu podia mudar o rumo das coisas? Podia. Mas todas estas peças de vazio relembram-me quem sou nos momentos em que brinco comigo.
É loucura, é desejo, é solidão, é prazer, é paixão, é sagacidade... Toma pelo que decidires.
Mas não me tomes como mais uma tola que sabe o que procura, e que faz malabarismos com a leviandade. Não sou.
Ainda estou em coma profundo na minha morgue. Lá respira-se ar gelado, mas cá fora esta quente. Na minha testa, os danos da bala que se alojou no meu crânio. Talvez queira e volte a acordar... Talvez fique para acreditar que afinal, ainda pode haver história comigo..., e em mim...
Talvez um dia, ainda..., sem querer.

Imagem em Deviantart

4 comentários:

Anónimo disse...

Como sempre... Muito bom! Teu.

PS.: Adorei esta versão do David!!! "Grrrauuu"!! :D

Bjão, MERRY X-MAS!!!!
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C.M.

Samuel Vidinha disse...

Bom Natal

Anónimo disse...

Isso são palavras muito profundas... de alguém que é complexo e que reflecte... Olha, não conhecia esse vídeo poderoso do David; agora tou a ficar viciado em vê-lo e ouvi-lo. Deve ter dado um trabalho do carai a fazer... Doce Blackbird, tem um Natal que não seja assim muito banal, embora seja difícil haver natais originais, mas ao menos que seja feliz, a confraternizar com pessoal de kem gostas. Beijinhos**

blackbird disse...

Samu, Natal quentinho para ti!! :)

Vagabundo,eu viciada estou!:P
Existem lugares comuns, que preenchem os enormes espaços entre as ousadias. :)

Feliz Natal!!

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