sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Hiato

Sentada no banco do carro, tentava procurar fundo numa conversa que não havia. Irritava-me. Irritava-me os poros, as raízes dos cabelos, as extremidades das mãos e dos pés, as têmporas. Irritava-me a perda de tempo. Não pelas contínuas chamadas do relógio sobre o tablier, mas pela azia de mais uma conversa sem nó, sem mim. Mais uma, irritada.
Irritada neste ácido de gente que apenas procura gente. Irritada pelas interrupções, pelas saídas agrestes, pelos pasteis de nata que ficaram na vitrina da pastelaria. Irritada com as travagens, curvas e contracurvas da incapacidade capaz de conduzir tão bem nas ruas de Lisboa.
O café enjoou.
Irritada de hoje. De olhos irritados. Irritada de mim.
Não tenho loção, mas pus penso rápido.
Já não lhe sinto a dor face ao vento, face ao frio, face ao toque, face a mim.
Não vou procurar tal remédio. Nem sei se existe! Quero nem saber!
Os meus dedos encarregam-se sempre de saber exactamente o ponto da ferida.

Não me peçam para ter calma.
Não me peçam para ser agradável.
Não me peçam para aceitar.
Não insistam.
Eu vou ficar! E vou continuar!

Foto em Deviantart

2 comentários:

e as outras disse...

registo interessante. como sempre magnifico melrinha. =)

Cristina disse...

sera?