quarta-feira, 20 de abril de 2011

Laranja (quase) Orgânica

Um travo a casca de laranja; Já irremediável o sabor, o bafo, a sobriedade berrante do aparato e da textura...
Eu, limitei-me a trincar de olhos semi-cerrados, na esperança de coisa nenhuma. E assim pareceu-me melhor. Mais que isso, pareceu-me a realização de um sonho adquirido já por toda a gente.
Sabem do que falo? É insípida a normalidade. Mas é disso que falo.
Fugir e não pertencer, fez com que a pequena caixa do peito tomasse contornos mais fascinantes. São trabalho manual de longa data, e de valor elevado. Já nada se vende.
Em troca talvez tenha vendido a vulnerabilidade imediata da minha alma. Ou da minha estupidez. Não saberei.
E assim fico, de peito elegantemente rendado, feito de duro mogno, à espera do verniz. Um dia, quem sabe...
Sonho-te cidade velha, que cheira a rio cinzento e cor quente descascada. Sinto-te cidade amarela que de tão pouco dás-me quase tudo, numa comodidade abstracta e boémia.
E assim... nua, sobre os lençóis encardidos, agora à espera da chuva como que de outra coisa qualquer, tenho o meu corpo ainda ressentido e curioso... mais ingénuo que eu. Só assim por si mesmo em mim, e não eu nele. Fico... a morder pacientemente a casca da laranja, à espera que esta se transforme em alguma coisa.
Talvez assassínio instintivo. Talvez verdade genuína. Ou ambas a mesma coisa...
Como se começasse tudo de novo..., agora a partir do fim.
O meu fim, para lá das invasões cronológicas neste espaço, em que me deixo ficar.
Deixo-me ficar...

1 comentário:

João Ricardo disse...

"Spill out on the streets of stars,
And ride away! Find out what you are,
face to face. Once you've had enough,
carry on. Don't forget to love, before you're gone...". Já tinha saudades de mandar um grão :)