Mas tu estás sempre a rir? - Perguntou-me. Respondo-te agora, assim mesmo. Estou. Rio a todas as oportunidades, porque ironicamente ou não (e a ironia é deliciosa e matreira), raramente faço par numa dança. Na dança há sempre alguém que comanda ou brilha mais.Costumo dizer que; Danço contigo. Com vocês. Agora. E ambos somos a mesma sombra ao pôr do Sol. O dobro de nós. E todos sentimos a brisa por entre o cabelo, no mesmo sentido. Paralelamente. Rio, porque sou paralela, e a perpendicularidade não me vinga nem a atinjo. Rio sim. A mais uma oportunidade que larguei sem agarrar. Rio-me. Sempre.
Teme, e é impotente perante a sua impotência. Corre mais do que o mundo... adianta-se milhas, até o perder de vista. À procura do mais profundo vazio. À procura de nada. Corre sem direcção nenhuma. Incompetente na missão. E nada sendo seu, não pertence a lado algum. Não sente saudades, nem tem a sua gente. Isso é batota dos fortes que seguem a estrada. E em tal marginalidade, ainda assim a sua janela não fecha. Ainda assim cobrem-na robustas paredes. E por isto mesmo. Que ainda assim não a impedem de ver a mais do que a sua felicidade permitiria. Impedisse-a o mundo de ser livre. E não se perderia na pior cela que é a liberdade suprema. Perde-se do mundo, sempre nela. Impede-se de respirar. É impotente. E a impotência quando passa não lhe conhece o rasto. Às vezes, recebe-lhe um formal Boa Noite. Seguindo caminho, de nariz apontado ao chão.
O maior lamento não reduz o pânico aos dias. Não facilitem a capacidade de julgar - disse, numa madrugada em que mais uma vez perdia o tempo por entre as suas finas, brancas e conhecidas mãos.
Lutaria de espada à cinta! E de armadura na mala. Que deixaria num canto seguro mais atrás de mim, porque os meus ombros são estreitos, e não suportariam tal peso. Enfrentaria o centro e a luz com teatralidade nos passos e nos gestos. Convictamente, usaria da minha alma e força bruta, unidas num só impulso, e entraria em campo de batalha para tropeçar na minha dança. Cantar-vos-ia seriedade com voz mimada, sorriso maroto, e cócegas nas orelhas. É só um sonho. Belisco-me e acordo. Sempre acreditei acerrimamente no que não existe. E se não existe é teoricamente impossível. E sendo teoricamente impossível, ninguém leva em consideração. Pois que perfeito. Perfeito! E porque perfeito não existe. Consideração... Certamente que o senhor do carrinho dos gelados do portão da saída, venderá pacotes de consideração com açúcar. Ele vende tudo. E tudo é como perfeito. Se eu te digo que tenho razão, tu negas e garantes-me a verdade. Rio-me durante aproximadamente três sestas e uma pequena refeição (daquelas de verão), e entretanto a guerra acaba. E eu não terei de puxar da espada adormecida na minha cinta. Nem de vestir a armadura,... lá atrás, dentro da minha mala. Não terei de vos levar a sério com o passar do tempo. E tempo, é como perfeito e tudo.
É como razão, verdade, peso, convictamente e impossível. Olha..., A guerra terminou. Ouvi de novo o ressoar do clarim. Ouvi a retirada e os gemidos ao longe. Pois que não me dá vontade de chorar. Já não levo a sério o que me tento fazer acreditar todos os dias para me fazer maior. E sério, é como tempo, perfeito, tudo, razão, verdade, peso, convictamente e impossível. Enfim, é como a memória. Maior... Bem, maior, é o que a coragem vê para além da ilusão das palavras. E essa..., nem nos sonhos ma mentem. Nem nos sonhos a trago. E deles, nunca soube nada. E nada é como... A guerra que vi e que não vos narrei. Disseram-me que o senhor do carrinho dos gelados do portão da saída, foi embora de mãos vazias e carro despido. Que pena... Ele tinha tudo.
Ainda corri para o portão, então fechado. A minha irresponsabilidade fez-me também perder a chave.